Será que já temos um mercado de startups em Angola?
Teríamos de ter um movimento de criação de startups com a visibilidade e o tamanho necessário para constituir-se em mercado.
Há uma série importante de iniciativas, com incubadoras, aceleradoras e concursos, mas o número de startups ainda não é visível e, por isso, pouco significativo.
Por outro lado, as startups que vão surgindo deparam-se com inúmeras dificuldades que ditam uma percentagem grande de projectos que conhecem o fracasso.
Vamos listar as principais causas de fracasso das startups angolanas. A ideia é analisar estas causas e dar uma indicação às startups para que as combatam com a ajuda dos seus mentores, incubadoras, aceleradoras, consultores e sistemas a que estão ligadas.
1- Questão de conceito
O conceito de startup ainda é pouco conhecido e muitas destas iniciativas não estão alinhadas com este conceito e todos os outros que permitem que ideias possam surgir no mercado com tais características. Dizem que são startups e operam, movimentam-se como projectos e organizações tradicionais gerando um conflito de posicionamento que não permite criar uma, verdadeira startup e os leva ao fracasso. Vamos entender melhor essa questão mais adiante.
2- Falta de orientação de princípios
Os princípios base de uma startup são um modelo em predefinição, com um negócio repetível e escalável, com alto poder de crescimento e com capacidade para assumir riscos e gerir a incerteza. Se os empreendedores não tiverem orientação para estes princípios terão grande margem para o insucesso.
3- Falta de interesse do mercado
Não basta ter uma grande ideia. “De grandes ideias o mundo está repleto”. Os startupers (criadores de startups) devem criar ideias que resolvam problemas concretos, existentes, relevantes para um mercado considerável. Quantas pessoas precisam, mesmo, da solução que a startup apresenta? Onde estas pessoas estão? Como chegar a elas? E estariam dispostas e com capacidade para pagar pela solução que a ideia apresenta? Se estas questões não tiverem resposta satisfatória, o insucesso deverá acompanhar a ideia.
4- Não medir, não pesquisar
A predefinição do modelo de negócio em startups exige que a planificação seja baseada em medição, pesquisa, estatística e feedback permanente, recebido do mercado e utilizadores da solução apresentada.
Startups que não saibam ou não têm sistema de pesquisa, criação e análise de dados deverão entrar, mais facilmente, para a estatística do insucesso.
5- Inovação
A inovação é fundamental na criação de startups. A inovação deve trazer valor perceptível para o mercado e não, somente, criatividade. O mercado deve sentir que ganha com o novo negócio. Se não trouxer inovação será mais um e estará mais próximo do insucesso.
6- Ambiente de Negócios
As startups devem saber em que mercado formal se inserem e que exigências legais estes mercados impõem aos seus operadores. Regulamentos e legislação geram uma série de limitações, compromissos e obrigações que, também, as startups devem cumprir. Inovação não pode ser sinónimo de desregulamentação.
7- Investimento
A falta de um sistema que ligue as startups a possíveis investidores tem gerado insucesso. Os sistemas permitem criar informação suficiente para que investidores reconheçam capacidade de geração de receitas e retorno nos negócios das startups.
Projectos de incubadoras e aceleradoras podem dar um contributo muito grande para resolver este problema tanto para as startups quanto para os investidores.
8- Gestão de projectos e negócios
A falta de conhecimentos em gestão põe em risco o sucesso das startups em todas as vertentes. Startups mal geridas caem no insucesso e gestores que não geram confiança não atraem investimento e boas parcerias.
Grande parte das startups têm dificuldades muito grandes com processos de gestão e precisam de contratar gestores para os levar adiante. Nalguns casos, mesmo antes do lançamento para o mercado.
9- Desconhecimento de aspetos jurídicos
As estruturas comerciais obedecem a uma série de procedimentos jurídico-legais que estabelecem os variados vínculos que devem criar a rede de relacionamentos institucionais. Os registos, licenças, contratos que existem em grande número e que são desconhecidos das startups.
A falta destes, não só, acarreta ilegalidades como deixa as starups desprotegidas perante os diversos processos comerciais. Um consultor jurídico poderá ser de extrema importância.
10- Relacionamentos
Ainda temos muitos problemas de relacionamento interpessoal e de perfil comportamental das pessoas envolvidas nos diversos projectos de startups. As características apresentadas acima e outras, exigem que os envolvidos, sócios, parceiros, fornecedores, etc, mantenham um comportamento voltado para o trabalho, a paixão pelo projecto, a obtenção de resultados, a transparência, a ética e conformidade.
Comportamentos pessoais longe deste perfil criam choques entre parceiros e levam os projectos ao insucesso.
11- Precificação
A definição de preços de produtos e serviços é muito difícil em qualquer negócio e deve ter em conta um grande número de variáveis. Em negócios como os das startups pode ser ainda mais difícil pela falta de comparação, pela aceitação do mercado ou pela má relação entre receitas, despesas, capital de giro e margem de contribuição.
Preços mal aplicados podem gerar fluxos de caixa desequilibrados e levar ao insucesso do projecto.
12- Tecnologia e economia real
Muitas startups fixam o desenvolvimento dos seus negócios com base em tecnologia e internet, aplicando todo o seu conhecimento e competências em aplicativos móveis e plataformas informáticas. Muitas destas soluções encontram barreiras na sua usabilidade quando os consumidores as experimentam no seu dia a dia porque falham nos aspectos físico-práticos, na estrutura de marketing, administração, finanças, operações e logística.
13- Falta de legislação
O fenómeno das startups é, relativamente, novo no mundo inteiro e muitos países, como Angola, ainda não têm legislação específica para processos de criação de empresas neste modelo. A falta deste tipo de legislação torna os processos muito mais pesados, morosos e pouco flexíveis o que leva a insucessos de projectos que necessitam de grande flexibilidade e rapidez como as startups.
14- Mentoria
A falta de mentoria deverá ser, provavelmente, um dos maiores causadores de insucesso das startups. A mentoria é como o ar que se respira para projectos deste tipo e buscar um mentor deverá ser condição “sine qua non” para dar alguma garantia de sustentabilidade estrutural para os empreendedores, principalmente, no ambiente conturbado da economia angolana.
Já existem programas de mentoria, incubação e aceleração de startups. Se tem um projecto neste sentido tome a mentoria como fundamental para o seu sucesso.
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